Projetos de Pesquisa

Poéticas contemporâneas – edição 2023-2027

Coordenadora: Maria Lucia de Barros Camargo

2023 – Atual

O projeto integrado Poéticas contemporâneas, edição 2023-2027 tem por objetivo dar continuidade ao desenvolvimento de estudos sobre a produção literária e cultural através da análise de periódicos literários e culturais publicados no Brasil desde meados do século XX, de modo a verificar, de um lado, a emergência e os apagamentos de linhagens poéticas, de princípios críticos e valores no campo da poesia e, de outro lado, a construção e desconstrução de cânones, a sobrevivência de relatos da modernidade e do próprio passado como forma de ressignificação da literatura do presente. Os trabalhos desenvolvidos no projeto investigam o estudo da poesia brasileira contemporânea em seu diálogo com a tradição: tradição da modernidade em sentido amplo e o modernismo brasileiro em sentido estrito, e a cena sociocultural em que essa produção literária se dá, além de suas relações mútuas. Desse modo, esta oitava edição visa ao aprofundamento e à análise das revistas, em especial daquelas revistas de poesia feitas por poetas, demarcando elementos de sobrevivências que vão além das referências a ou das apropriações de um passado, procurando distinguir os vários modos de relação entre os tempos e entre os grupos (se é que de fato existem). Ao problema da tradição se articulam as mesmas questões dos modos da memória, dos arquivos que se podem armar, das origens que se pode re-inventar(iar).

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Heranças de andanças de Ahasverus pela América Latina

Coordenador: Carlos Eduardo Capela

2023 – Atual

Andarilho incessante, testemunho não apenas da História mas ainda do tempo restante até o apocalipse (ao menos desde a perspectiva escatológica por ele também atestada), Ahasverus, o Judeu Errante, não possui domicílio fixo neste mundo, nenhuma estância própria e tampouco um lugar comum que lhe permita viver junto aos seres humanos com os quais encontra algures, ao acaso de sua intermitente viagem. Condenado por Cristo a vagar até a parúsia, sua imortalidade relativa faz dele um ser à parte, mantendo-o no exílio mais absurdo: aquele que o priva da morte, universal que sem outra exceção submete todos demais seres viventes, e assim naturalmente os congrega. Personagem a princípio assaz vinculada ao cristianismo e ao anti-semitismo, ao longo dos séculos ela passo a passo ganha contornos ficcionais mais precisos, acabando por ser reivindicada inclusive por escritores e artistas de ascendência judaica. Um amplo arquivo, em perseverante ampliação, foi sendo organizado a partir e em torno dela, compreendendo inúmeros registros nos espaços literários e artísticos, de um lado, e uma fortuna crítica de dimensões consideráveis, de outro. Uma parcela desse arquivo, no qual ela encontra asilo, que mesmo de passagem a conta e contém, é objeto da presente investigação. Tendo como pano de fundo algumas obras que a abrigam, além de ensaios críticos e analíticos nelas focados, essa pesquisa propõe um estudo comparado de ficções de cinco escritores latino-americanos, publicadas no século XX, em que Ahasverus é referência central: Jorge Luis Borges, Manuel Mujica Lainez, Gabriel García Márquez, Samuel Rawet e Isaac Goldemberg.

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Teorias do ritmo poético na América Latina: de Andrés Bello a Idea Vilariño

Coordenador: André Fiorussi

2023 – Atual

A pesquisa pretende reunir e discutir alguns textos principais voltados à formulação de teorias do ritmo poético produzidas na América Latina desde o século XIX, com foco em três estudos publicados em momentos distantes entre si: Principios de la ortología y métrica de la lengua castellana (1835), de Andrés Bello; Leyes de la versificación castellana (1912), de Ricardo Jaimes Freyre; 3) La masa sonora del poema, de Idea Vilariño (2016). Paralelamente, serão considerados também estudos de outros estudiosos e poetas, com amparo em fundamentação teórica atualizada para a discussão do ritmo, nomeadamente aquela que se desenvolve a partir dos estudos pioneiros de Jankélévitch (1961/2019), Benveniste (1966/1970) e Meschonnic (1982; 2006; 2010). Apesar de notáveis diferenças específicas, que respondem aos diferentes momentos e programas poético-culturais em que foram pensados, pode-se dizer que o que une esses escritos é sua defesa do ritmo como elemento essencial da poesia e sua proposta de fazer prevalecer a análise rítmica sobre a métrica: tornar o metro uma figura do ritmo, invertendo assim a convenção normativa que mandava entender o ritmo como figura do metro.

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A invenção do presente: modos da crítica e da criação na emergência da modernidade

Coordenador: Artur de Vargas Giorgi

2022 – Atual

Este projeto de pesquisa apresenta propostas para atividades de ensino, pesquisa e extensão no âmbito do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas, no campo de conhecimento da Teoria Literária. As propostas são precedidas de uma contextualização, com justificativa fundamentada. Igualmente são apresentados os procedimentos metodológicos a serem adotados, os resultados esperados, um cronograma de execução com vigência trienal (entre março de 2022 e março de 2025) e, enfim, as referências bibliográficas utilizadas. A pesquisa propriamente dita busca mapear certos modos da crítica e da criação que poderiam ser descritos, hoje, como formas situadas de invenção (Foucault) ou de emergência (Ferraris) da modernidade ocidental, num trânsito entre Europa e América Latina. Tal investigação, dedicada ao que Foucault chamou de ‘ontologia histórica de nós mesmos’, passa inicialmente pela leitura de autores que investiram na crítica da tragédia da cultura ocidental, dentre os quais podemos destacar Marx, Engels, Nietzsche, Simmel, Benjamin, Adorno, Freud, Husserl e, recentemente, Mbembe, Rancière e Susan Buck-Morss. Logo, aclimatando o problema ao nosso contexto, o projeto deve permitir a retomada de alguns pressupostos modernos e modernistas a respeito da relação entre natureza e cultura na formação das nações latino-americanas, contrastando a base teleológica desses pressupostos hegemônicos com um arquivo heterogêneo de fenômenos culturais que, por sua vez, desnaturaliza os ideais de fundação, os mitos de origem, o valor ascendente do cânone etc. Em destaque, portanto, estarão situações disruptivas (textos, imagens) nas quais pode ser lido um singular engajamento entre as operações da linguagem (das linguagens), os sujeitos e a produção de uma estética do litígio, do dissenso, em tensão com os usos já instituídos para a produção e circulação dos sentidos.

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Textos reunidos de Maurício Gomes Leite

Coordenador: Jair Tadeu da Fonseca

2022 – Atual

O trabalho proposto pesquisa a obra crítica do jornalista, cineasta e funcionário da Unesco Maurício Gomes Leite (1936-1993), considerando o caráter ensaístico de sua escrita, em suas relações com o cinema, a literatura e outros aspectos da cultura, para ressaltar os liames e tensões entre o local, o regional, o nacional e o estrangeiro como marcas de sua obra, compreendida no contexto da geração em que se insere o o autor, que pode ser entendida como a última do modernismo no Brasil. O resultado final da pesquisa proposta é a organização de um livro que reúna uma seleção de críticas, artigos e ensaios escritos por Maurício Gomes Leite, em diversos jornais e revistas, da década de 1950 à de 1980, incluindo a feitura de notas explicativas, quando necessário, sobre os textos selecionados, e a elaboração de um estudo sobre o conjunto da obra do autor, sua importância para a cultura brasileira, e as características específicas de sua escrita. Saliente-se que a pesquisa de arquivos referentes ao projeto foi realizada de março de 2013 a março de 2014, através da UFMG, sob supervisão do Prof .Dr. Wander Melo Miranda. Desde então, foi realizada a digitação do material localizado e fotografado em revistas, jornais e originais, em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, o que totalizou cerca de 1.391 páginas de textos contínuos, apenas parcialmente revisados, para a organização do livro a ser publicado, conforme anexo. Em alguns casos, a revisão demandaria retorno aos arquivos materiais de onde os textos vieram, devido a muitos problemas de reprodução impedirem a leitura de alguns artigos importantes, ou devido à eventual falta e incompletude de algumas referências. Com a pandemia, todos os arquivos materiais que constituem as fontes das coleções de jornais, revistas e originais consultados estiveram fechados, o que impossibilitou retornar a eles, presencialmente. Assim, espera-se que seja possível retomar a pesquisa para que tanto material reunido possa ser aproveitado e para que finalmente se consiga sua publicação em livro.

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Nem campo nem cidade. Autografias periféricas

Coordenador: Jorge Hoffmann Wolff

2022 – Atual

O projeto propõe a abordagem de um corpus literário que atravessa o século XX no Brasil, com base na noção de autografias periféricas, caracterizadas como os modos tensos e atípicos em que se inscreve a série de textos de escritoras e escritores que, por diferentes motivos, escreveram com violência e sob violência, situando-se à margem de qualquer discurso hegemônico ou integrativo no que tange à questão do nacional. São elas-eles, no recorte proposto no projeto, Lima Barreto, Patrícia Galvão, Carolina Maria de Jesus, Marilene Felinto, Racionais MCs e José Falero, com destaque para os seguintes textos, respectivamente: Diário íntimo, Autobiografia precoce, Diário de Bitita, As mulheres de Tijucopapo, Diário de um detento, Capão pecado e Os supridores. Deles emanam os debates ético-estético-políticos relacionados à segregação social e geográfica e à cor da pele das personagens que os habitam e que são parte desta investigação. O objetivo geral da presente proposta de pesquisa é, portanto, esmiuçar e colocar em contraste-e-relação textos ficcionais, críticos e teóricos a propósito das profanas escrituras periféricas, isto é, das escritas da guerra cotidiana e da violência, de modo a problematizar o estatuto da literatura brasileira diante das artes e desastres do contemporâneo. Para isto, são destacadas as formas de escritas profanas (no sentido de alheias à norma padrão e de não convencionais) que chamamos de ?autografias periféricas? em seus modos de subverter a própria noção do literário, em discussão que coloca simultaneamente em questão os limites desta noção no presente. Com o título geral do projeto, ?Nem campo nem cidade?, objetivamos compreender estas literaturas transgressoras produzidas desde a perspectiva do fora do mundo civilizado, estando situadas, a princípio, à margem de qualquer discurso oficial. Perspectiva do ?fora? e da ?margem? que, no entanto, sabemos estar relacionados e em tensão com os paradigmas civilizatórios modernizantes, em paradoxo que nos interessa examinar.

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Abstração e realismo: a América Latina e o vazio fundacional

Coordenador: Artur de Vargas Giorgi

2020 – Atual

O projeto retoma uma diferenciação canônica entre as colonizações espanhola e portuguesa para pensar, num viés crítico, as matrizes respectivamente abstratas e realistas que orientariam, por um lado, a produção artística e, por outro, a interpretação dos processos de constituição de nações latino-americanas. Proposta emblematicamente por Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil (1936), essa diferenciação ressoa em outras interpretações modernas a respeito da formação das cidades e da cultura na América Latina. Trata-se, no caso brasileiro, de um marco ensaístico do modernismo que reforça a leitura arborescente e teleológica da cultura, dando sequência, com isso, a uma via aberta por Silvio Romero e José Veríssimo, e logo seguida por Gilberto Freyre, Afrânio Coutinho, Antonio Candido, Roberto Schwarz, Ferreira Gullar, Mário Pedrosa, Alfredo Bosi, entre outros. Nesse ensaio lemos, assim, uma das formulações mais bem acabadas para a formação do nacional brasileiro a partir de um incontornável processo de desterramento e, ainda, para o reconhecimento do ‘fora do lugar’ como nosso lugar mais próprio. Agora, recorrendo a um arquivo heterogêneo (quadros, fotografias, textos) e algo avesso ao caminho pavimentado pelo cânone modernista, o projeto busca armar uma leitura contrastiva que permita uma análise mais nuançada desses véus – abstrações e representações – que afinal encobririam, no Brasil e em outros países latino-americanos, o vazio de nossas fundações sociais como um trompe loeil.

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Ahasverus (heranças : errâncias : hiâncias)

Coordenador: Carlos Eduardo Capela

2019 – 2023

Andarilho incessante, Ahasverus, o Judeu Errante, não possui lugar no mundo, nenhuma estância própria e tampouco um lugar comum que pudesse lhe permitir viver junto aos seres humanos com os quais encontra algures, de acordo com as intermitências de seu caminhar. Condenado pelo Cristo a errar até a parúsia, sua imortalidade coloca-o à parte, lançando-o no exílio o mais absoluto: aquele que o priva da morte, esse universal que congrega todas as demais formas de vida. Personagem a princípio fortemente vinculada ao cristianismo, pouco a pouco, ao longo dos séculos, vai ela ganhando contornos ficcionais mais precisos. Um amplo arquivo gradualmente se organiza a partir e em torno dela, compreendendo tanto inúmeros registros artísticos, sobretudo literários, quanto uma fortuna crítica considerável. Uma pequena parcela desse arquivo, no qual ela encontra asilo, que a conta e a contém, é objeto de estudo da presente pesquisa. Tendo como pano de fundo obras literárias que a abrigam, de um lado, e textos críticos e analíticos focados em tais obras, de outro, a investigação propõe um estudo de ficções assinadas por ao menos quatro escritores latino-americanos do século XX, das quais Ahasverus participa: Jorge Luis Borges, Manuel Mujica Lainez, Gabriel García Márquez e Samuel Rawet.

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Poéticas Contemporâneas: edição 2019-2023 (sétima edição)

Coordenadora: Maria Lucia de Barros Camargo

2019 – 2023

O projeto integrado Poéticas contemporâneas, edição 2019-2023 (sétima edição) tem por objetivo dar continuidade ao desenvolvimento de estudos sobre a produção literária e cultural através da análise de periódicos literários e culturais publicados no Brasil desde meados do século XX, de modo a verificar, de um lado, a emergência e os apagamentos de linhagens poéticas, de princípios críticos e valores no campo da poesia e, de outro lado, a construção e desconstrução de cânones, a sobrevivência de relatos da modernidade e do próprio passado como forma de ressignificação da literatura do presente. Os trabalhos desenvolvidos no projeto investigam o estudo da poesia brasileira contemporânea em seu diálogo com a tradição — tradição da modernidade em sentido amplo e o modernismo brasileiro em sentido estrito; e a cena sociocultural em que essa produção literária se dá, além de suas relações mútuas. Desse modo, esta sétima edição visa ao aprofundamento e à análise das revistas, em especial daquelas revistas de poesia feitas por poetas, demarcando elementos de sobrevivências que vão além das referências a ou das apropriações de um passado, procurando distinguir os vários modos de relação entre os tempos e entre os grupos (se é que de fato existem). Ao problema da tradição se articulam as mesmas questões dos modos da memória, dos arquivos que se podem armar, das origens que se pode re-inventar(iar).

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Crítica e poesia em revista: sobrevivências e anacronismos

Coordenadora: Maria Lucia de Barros Camargo

2019 – Atual

O projeto Crítica e poesia em revista: sobrevivências e anacronismos se insere no Poéticas contemporâneas e dá continuidade ao estudo “Poesia em revista”. Se uma revista literária, por definição ou por tradição, deveria apontar para o presente, para o mais novo, revistas como Inimigo Rumor e Azougue não têm problemas em inserir o passado. Não todo o passado, nem apenas o mais próximo: trata-se de uma operação de sobrevivência, de resgate daquilo que se pode/quer lembrar, junto com o que se pode/quer esquecer — uma sorte de revisitação arquivística, não bibliotecária. Duas questões se impõem, portanto, a partir da leitura e da análise destes periódicos, especialmente a partir das revistas de poesia: o anacronismo e o arquivo. Estes elementos avançam na leitura do poeta-editor de revistas como um novo arquivista, um arconte desse arquivo que não apenas guarda o passado, mas afiança o futuro (desdobrando-se a leitura a partir de Derrida). Ainda está em processo de análise, e especialmente pela ampliação desse mesmo corpus com aquelas revistas esquecidas, os desdobramentos possíveis a partir da noção de anacronismo (Didi-Huberman). Como ler, por exemplo, Dora, a Cavalo Azul, a Diálogo e mesmo a Revista Brasileira de Poesia, fora dos estereótipos ou da reafirmação das leituras simbólicas e mitológicas?

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Por uma conceituação da bioestética: arquivo e diagramas do vivente na América Latina

Coordenador: Raul Antelo

2018 – Atual

A Estética tem uma dimensão abertamente fundacional da experiência, que exige concebê-la como uma reflexão cujo objeto é a mais íntima exposição do sentir humano, a do contato ou aisthesis, na esfera da operação cognitiva e da produção de sentido, o que alavanca formas de saber e formas de vida, que a vinculam, em última análise, com a técnica e o artifício. Nietzsche abre esse debate ao conceitura a religião, a moral e a filosofia como formas de décadence do homem ocidental. E esse modo de encarar o problema de uma progressiva anestetização da vida moderna, levava Nietzsche a constatar um descompasso entre as noções de arte e verdade, em outras palavras, esse hiato fazia com que o filósofo pensasse a arte como uma estética fisiológica, estreitamente ligada à vida, vida essa, por sinal, que ele concebia como vontade de poder, isto é, vontade de chance, de acaso, de arbítrio ou de jogo, em suma, como uma forma de bio-poder. A bioestética define, portanto, uma condição fundacional do sujeito moderno, qual seja, sua operatividade como força, em perpétuo estado de embriaguez, resultado do qual obtemos a obra de arte que, sob um ponto de vista perspectivista, nada mais é do que produção de formas de vida. Mas, nesse ponto, impõe-se o paradoxo de constatar que, quanto mais se expandem a criatividade e a operatividade da obra, mais se firma o desejo de controlar sua expansão fora de si. Essa tensão, que irá se avolumando em Heidegger, Deleuze, Foucault e Badiou, autores que abalam as figuras metafísicas fundacionais, tais como a totalidade, a universalidade, a essência ou o próprio fundamento da estética, nos conduz a um cenário em que domina já não a inexistência de fundamento da disciplina mas, a rigor, a ausência de um fundamento derradeiro, reconhecendo, assim, tanto a permanente contingência do estético, quanto seu caráter de fundamento apenas parcial e, em última análise, sempre falido, porque, ao acatarmos a autonomia e historicidade do próprio acontecimento estético, estamos, implícitamente, admitindo a indeclinável necessidade de decisão, perante a não menos incontornável divisão, discórdia e antagonismo que atravessam a esfera artística contemporânea. No marco deste projeto, Antelo é o editor do dossiê Filologias latino-americanas da revista Chuy (UNTREF), publicado em dezembro 2020.

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Uma literatura por vir: declínio da arte, ascensão da cultura, emergência do arquivo

Coordenador: Artur de Vargas Giorgi

2018 – 2024

Este projeto de atividades acadêmicas contempla propostas para atividades de ensino, pesquisa e extensão no âmbito do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas, no campo de conhecimento da Literatura Brasileira. Acreditamos que se investe de grande importância um trabalho de pesquisa que privilegie as emergências do contemporâneo no arquivo da modernidade. Este seria, em suma, o objetivo do projeto: analisar textos que permitam articular, de forma abrangente, o problema da violência histórica e suas formas de sobrevivência no presente através das rememorações críticas do passado que o anacronismo do sensível franqueia. Como a consignação das experiências conduz essa crítica? E quais os efeitos desse trabalho de rememoração para o entendimento da literatura brasileira, no passado e hoje? A proposta é que, junto com leituras teóricas, o exercício de análise de uma constelação ampla e heterogênea aponte para os modos de citação do passado adotados no presente; presente e passado que são então ficcionalizados com as obras (entenda-se: não representados, mas sim re-apresentados; repetidos com diferença).

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Poéticas da modernidade na América Latina

Coordenador: André Fiorussi

2017 – Atual

Com foco no estudo de poetas românticos e modernistas latino-americanos ? principalmente Joaquim de Sousândrade, Rubén Darío e Julio Herrera y Reissig ?, o projeto busca investigar as determinações históricas que participam da configuração de programas poéticos na América Latina da segunda metade do século XIX e dos primeiros anos do XX. A metodologia, baseada em critérios histórico-estilísticos de leitura, análise e interpretação, se apoia fundamentalmente no confronto entre a primeira recepção histórica do corpus poético selecionado e os discursos críticos e interpretativos que se constituíram posteriormente. O objetivo é a produção de novos conhecimentos a respeito dos estilos e da dicção mobilizados por essas práticas poéticas em suas especificidades históricas, de modo a oferecer alternativas aos impasses teóricos contemporâneos com relação à poesia anterior às vanguardas.

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Archivo Rubén Darío – AR.DOC

Coordenador: André Fiorussi

2016 – Atual

O projeto “Archivo Rubén Darío”, iniciado na Universidad Nacional Tres de Febrero (Buenos Aires) pelos professores Daniel Link e Rodrigo Caresani, compreende duas ações principais. A primeira, nomeada Archivo Rubén Darío Organizado y Centralizado (AR.DOC), consiste na criação de um arquivo digital que oferecerá um catálogo unificado dos documentos darianos dispersos nos arquivos de todo o mundo, além de prover nova informação com a digitalização de manuscritos, fotografias, correspondência e imprensa periódica. Em uma aposta pelo acesso democrático à escritura do primeiro poeta latino-americano de projeção mundial, os resultados do AR.DOC integrarão um repositório digital aberto a toda a comunidade. A segunda ação é uma nova edição da obra de Rubén Darío em 20 volumes que pretende resgatar e recompor seus textos com máximo rigor filológico, extensas notas explicativas, glossários, apêndices documentais e fac-símiles. O projeto conta com a colaboração de pesquisadores ligados a diversas universidades internacionais.

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Poéticas Contemporâneas: sexta edição

Coordenadora: Maria Lucia de Barros Camargo

2014 – 2019

O projeto integrado Poéticas contemporâneas: histórias e caminhos, em continuidade ao trabalho de mapear e analisar os periódicos culturais e literários que circulam ou circularam no Brasil na segunda metade do século XX, vem também aprofundando seus estudos da produção cultural e poética contemporâneas, procurando detectar linhagens poéticas, relatos de modernidade, releituras da tradição literária, construção e desconstrução de cânones, tensões entre a alta literatura e a cultura de massa , em suma, buscando ler, nos periódicos, o contexto literário e cultural que nos contém na segunda metade do século XX e os pressupostos críticos que o regem em suas constantes mutações. Trata-se, de um lado, do estudo da poesia brasileira contemporânea em seu diálogo com a tradição; de outro, as indagações acerca da cena sócio-cultural em que essa produção literária se dá. Para esta linha de investigação acerca de tais poéticas contemporâneas o estudo dos periódicos literários e culturais tem-se confirmado como corpus privilegiado.

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Poesia em revista

Coordenadora: Maria Lucia de Barros Camargo

2012 – Atual

Projeto dedicado especificamente ao mapeamento e análise da produção brasileira no campo da poesia e da crítica de poesia em suas linhagens e releituras da tradição a partir das revistas literárias. Além disso, o projeto Poesia em revista também dedica-se a estudos monográficos e detidos acerca de um determinado poeta, e, portanto, acerca da configuração do cena literária Brasileira, especialmente a partir da segunda metade do século XX. Trata-se de revisitar e revisar o que permanece e o que se modifica na herança da vanguarda e dos modernismos literários nas produções do período, dando conta das linhas de força e das linhas de ruptura, bem como da comparação do estado da poesia e da crítica no final do século.

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Para uma conceituação da bioestética

Coordenador: Raul Antelo

2014 – 2017

A Estética tem uma dimensão abertamente fundacional da experiência, que exige concebê-la como uma reflexão cujo objeto é a mais íntima exposição do sentir humano, a do contato ou aisthesis, na esfera da operação cognitiva e da produção de sentido, o que alavanca formas de saber e formas de vida, que a vinculam, em última análise, com a técnica e o artifício. Nietzsche abre esse debate ao conceitura a religião, a moral e a filosofia como formas de décadence do homem ocidental. E esse modo de encarar o problema de uma progressiva anestetização da vida moderna, levava Nietzsche a constatar um descompasso entre as noções de arte e verdade, em outras palavras, esse hiato fazia com que o filósofo pensasse a arte como uma estética fisiológica, estreitamente ligada à vida, vida essa, por sinal, que ele concebia como vontade de poder, isto é, vontade de chance, de acaso, de arbítrio ou de jogo, em suma, como uma forma de bio-poder. A bioestética define, portanto, uma condição fundacional do sujeito moderno, qual seja, sua operatividade como força, em perpétuo estado de embriaguez, resultado do qual obtemos a obra de arte que, sob um ponto de vista perspectivista, nada mais é do que produção de formas de vida. Mas, nesse ponto, impõe-se o paradoxo de constatar que, quanto mais se expandem a criatividade e a operatividade da obra, mais se firma o desejo de controlar sua expansão fora de si. Essa tensão, que irá se avolumando em Heidegger, Deleuze, Foucault e Badiou, autores que abalam as figuras metafísicas fundacionais, tais como a totalidade, a universalidade, a essência ou o próprio fundamento da estética, nos conduz a um cenário em que domina já não a inexistência de fundamento da disciplina mas, a rigor, a ausência de um fundamento derradeiro, reconhecendo, assim, tanto a permanente contingência do estético, quanto seu caráter de fundamento apenas parcial e, em última análise, sempre falido, porque, ao acatarmos a autonomia e historicidade do próprio acontecimento estético, estamos, implicitamente, admitindo a indeclinável necessidade de decisão, perante a não menos incontornável divisão, discórdia e antagonismo que atravessam a esfera artística contemporânea.

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Otobiografias latino-americanas

Coordenador: Jorge Wolff

2014 – Atual

Este projeto de pesquisa de “literatura brasileira” intitulado Otobiografias latino-americanas se propõe a operar, para além de gêneros, territórios e temporalidades previamente demarcadas, com um corpo crítico-teórico de pensadores-poetas-ensaístas latino-americanos sobre textos em diferentes línguas, com destaque para a brasileira e a castelhana, que deem conta de algum modo do tema da vida e da morte, não com a finalidade de dar um sentido a ambas e sim de investigar os modos de abordá-lo, quer dizer, de analisar a experiência do biográfico e do autobiográfico em seus indícios e em suas dobras: a questão da vida e da morte como experiência do outro, a experiência da vida-morte ali onde ela não está. Em outras palavras, se trata de uma abordagem de certas escrituras do eu em busca de suas brechas e de seus rastros antes que de seus centros de rotação; trata-se igualmente de buscá-las enquanto memória da infância e infância da memória. O projeto propõe a leitura crítica de textos de uma série de autores, os quais perfazem o seu corpus “vivo-morto”, a saber: Mario Levrero, Caetano Veloso, Tamara Kamenszain, Arturo Carrera, W. H. Hudson, Murilo Mendes, Paulo Leminski, César Aira, Sylvia Molloy e Silviano Santiago. O corpus crítico-teórico inclui filósofos, críticos e escritores, incluindo duas escritoras-ensaístas argentinas e um escritor-ensaísta brasileiro também presentes no corpus anterior: Sylvia Molloy, Tamara Kamenszain e Silviano Santiago. Os demais autores trazidos diretamente à baila são Josefina Ludmer, Flora Süssekind, Raul Antelo, Reinaldo Laddaga, Paul de Man, Gilles Deleuze, Giorgio Agamben e – conforme antecipado no próprio título do projeto – Jacques Derrida.

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Documentos do Presente

Coordenador: Jorge Wolff

2010 – Atual

Este projeto de pesquisa propõe uma abordagem das noções de (neo)naturalismo ou (neo)documentalismo a partir de duas vozes da vida literária brasileira dos anos 70 e 80 as de Ana Cristina César (Literatura não é documento, 1980) e Flora Süssekind (Tal Brasil, qual romance?, 1984). A convergência entre literatura e cinema brasileiros inerente ao trabalho já presente nos ensaios das duas escritoras, cada uma a seu modo busca, por sua vez, estudar e articular teoricamente os conceitos de ficção documental, espaço biográfico e figuras de autor, articulados aos de naturalismo∕documentalismo, em narrativas literárias e fílmicas, de distintas vertentes, mais ou menos identificadas entre si. O corpus do projeto, em suas diferentes etapas, é composto por obras de Graciliano Ramos e Eduardo Coutinho; Manuel Bandeira, Joaquim Pedro de Andrade e Dalton Trevisan; Bernardo Carvalho e Cristóvão Tezza.

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A gesta entre nós, tal gesto: disposições e dispositivos

Coordenador: Carlos Eduardo Capela

2013 – 2019

O projeto de pesquisa, no seu atual desdobramento, opera a partir da ideia de frentes de trabalho, que contemplam, e investigam, três arquivos distintos, compostos em sua maior parte por textos ficcionais, que se organizam em séries distintas, porém correlatas. O primeiro destes arquivos congrega ficções de autores brasileiros que colocam em cena situações narrativas nas quais personagens de não-nacionais (categoria maior que compreende em especial imigrantes, colonos e estrangeiros, de origem nacional variada, mas que pode muito bem se abrir para asilar outras modalidades de exílio que não aquelas resultantes de motivações de ordem essencialmente econômica, ou seja, que não respondam em sua mais alta medida a apelos da necessidade imediata) são postos em relação com personagens de nacionais, num ambiente social e numa paisagem identificados por sua “cor local”. Isso é, são originais, identificados e marcados como brasileiros já desde o cenário neles enfocado, em que os elementos humanos (as personagens, inclusive as de narradores) são considerados a partir de sua situação de inclusão ou exclusão (ou, ainda, de intrusão, para lembrar um conceito proposto por Jean-Luc Nancy) em uma ordem social dada como previamente constituída, embora, como sempre, em constante processo de transformação. O segundo arquivo, que em larga medida compartilha com o anterior matrizes metodológicas e teóricas subjacentes a sua própria organização, contempla sobretudo peças teatrais publicadas, e em sua maior parte encenadas, na Argentina, grosso modo entre as décadas de 1900 e 1930. Tais peças têm como um de seus traços comuns a proposição de argumentos dramáticos que giram em torno do difícil e tenso relacionamento entre personagens de membros da população local, que se tomam como legítimos argentinos, e reivindicam uma tal identidade, e personagens de não-nacionais, de diversas procedências, com destaque para aqueles que sinalizam para o largo contingente de imigrantes europeus chegados ao país (como, aliás, ocorre de modo similar na domínio da literatura brasileira, no período em foco, com a distinção relevante de que no Brasil são poucas as peças teatrais que trazem à cena personagens de não-nacionais). Um terceiro arquivo diz respeito às errâncias literárias e artísticas da personagem de Ahasverus, o Judeu Errante. É, cronologicamente, o mais recente deles, reunindo originais de diversas modalidades artísticas, isso em função da espantosa dispersão da personagem no tempo e no espaço, que dão vazão às infindáveis movências de Ahasverus. No caso deste arquivo, ao conjunto de originais de cunho artístico se juntam textos críticos e analíticos relativos ao Judeu Errante, produzidos notadamente a partir de meados do século XIX. E é exatamente o campo teórico que constitui, uma quarta frente de trabalho, inclinada a pensar metamorfoses e deslocamentos, enfim, movências imanentes ao processo artístico para além de determinações de quaisquer ordens.

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Literatura, cinema, cultura e contracultura

Coordenador: Jair Tadeu Fonseca

2014 – Atual

Parte significativa das produções cinematográfica e literária (incluído o cancioneiro) é muito marcada pelo que se chamou de contracultura, a partir da segunda metade do século XX. Interessa à pesquisa perceber em obras literárias e cinematográficas, principalmente no Brasil, e principalmente em relação à Tropicália e ao pós-tropicalismo, mas não só nesses momentos e não só no país, o que nessas obras permite relacionar arte e vida, na chamada “sociedade do espetáculo” (Guy Debord), ou seja, na sociedade capitalista. A hipótese que se apresenta aqui é que tais manifestações artísticas, como a narrativa de José Agrippino de Paula, a poesia de Torquato Neto, as canções de Caetano Veloso e a poesia dita “marginal”, os filmes de Glauber Rocha, Rogério Sganzerla e Júlio Bressane e os trabalhos de Hélio Oiticica, entre outros, colocam-se no limite do modernismo e do chamado pós-modernismo, para o qual o dado pop se apresenta como importante em grande parte dessa obras. Sendo que isso se afina na hipótese contígua de que a arte contracultural, como a podemos chamar, se apresenta como diluição da vanguarda modernista na dimensão comportamental – fundamental para a contracultura. Assim, paradoxalmente, se cumpre, no momento dito pós-moderno, um dos objetivos das vanguardas históricas do modernismo: o de romper as fronteiras entre arte e vida. Entre as reflexões importantes a esse respeito, no âmbito da crítica e a teoria literárias no Brasil, são importantes para a pesquisa as diferentes posições de Augusto/Haroldo de Campos, Roberto Schwarz e Silviano Santiago, e mais recentemente as de Flora Süssekind. Para a reflexão acerca do pós-modernismo, as considerações de Fredric Jameson são muito relevantes.