Teses

Para além da frente ampla: Fernando Gasparian e a educação das elites

Jeferson Candido
Orientadora: Maria Lucia de Barros Camargo
2018

Resumo: Este trabalho se detém, num primeiro momento, na trajetória de Fernando Gasparian. De modo geral, Gasparian é conhecido como o dono e diretor de Opinião (1972-1977), semanário que constitui um marco da imprensa brasileira na década de 1970 e cuja característica principal foi reunir em torno de si um amplo espectro de colaboradores no exercício de oposição à ditadura. Mas, além de Opinião, Gasparian foi um dos ideadores da revista Argumento (1973-1974), editor dos Cadernos/Ensaios de Opinião (1975-1980), adquiriu a editora Paz e Terra em 1973 e abriu, em 1979, a Livraria Argumento em São Paulo e no Rio de Janeiro. É sobre esse conjunto de realizações que nos detemos no segundo capítulo. Por fim, conjugando os capítulos anteriores, procuramos apontar um projeto editorial que, para além da “frente ampla de oposição” à ditadura, carrega também o ideal de uma “educação das elites”. Concentramo-nos, particularmente, sobre as publicações, isto é, Opinião, Argumento e Cadernos/Ensaios de Opinião. Se, no semanário, a saída quase completa da equipe original em 1975 e o fim em 1977 nos indicam os limites desse ideal subjacente apontado, a transição entre as revistas evidencia a mudança paradigmática que o acompanha.

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Revista do livro: um projeto político, literário e cultural

Fernando Floriani Petry
Orientadora: Maria Lucia de Barros Camargo
2015

Resumo: Publicada entre os anos de 1956 e 1970, a Revista do Livro era o órgão oficial do Instituto Nacional do Livro. Seu projeto foi retomado pelo Departamento Nacional do Livro – subordinado à Fundação Biblioteca Nacional – em 2002. Idealizada pelo poeta gaúcho Augusto Meyer, a revista reuniu em suas páginas nomes significativos da intelectualidade brasileira em suas diferentes fases de publicação, que coincidiram com diferentes momentos políticos brasileiros. Sua primeira fase, de 1956 a 1961, compreende exatamente o período do Governo de Juscelino Kubitschek e possui 24 números divididos em 20 volumes. Sua segunda fase, de 1964 a 1970, ocorreu durante o período da Ditadura Militar no Brasil, com 19 números publicados em 17 volumes. E sua terceira e atual fase, iniciada em 2002, coincide com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, para a Presidência da República e recupera a sequência numérica da revista. O último número lançado, em 23 de julho de 2015, foi o 55, totalizando 12 números em 12 volumes. Diante dessa proliferação de números, optamos por realizar um recorte na definição do corpus de pesquisa para a presente tese, focando na primeira fase da revista. Assim sendo, trabalharemos com os 24 primeiros números, publicados entre os anos de 1956 e 61, ampliando o olhar para a sua fase embrionária, ou seja, para os anos de planejamento e criação do Instituto Nacional do Livro e da sua revista. A presente tese sustenta a hipótese de que a Revista do Livro atuou a partir de um projeto político, literário e cultural específico, cujos objetivos eram imaginar e selecionar as tradições que serviriam de base para (re)fundar a Literatura Nacional a partir da constituição de um cânone baseado nos grandes vultos da historiografia literária.

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Todos os pivetes tem o meu nome: imagens da subjetividade nos arquivos de Roberto Piva

Ibriela Bianca Berlanda Sevilla
Orientadora: Maria Lucia de Barros Camargo
2015

Resumo: Esta tese apresenta uma leitura sobre os arquivos deixados pelo poeta paulistano Roberto Piva (1937-2010); um deles localizado na cidade de São Paulo em posse do herdeiro dos direitos autorais, e outro, guardado no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro desde 2006. A investigação em ambos os arquivos trouxe a descoberta de dois livros inéditos do poeta: Corações de hot-dog e Out-door. O recorte que constitui o corpo desta investigação literária está formado pela análise de notas e poemas inéditos colhidos de ambos os arquivos e pela análise de poemas do livro Corações de hot-dog. A partir das análises, constatou-se que o fio condutor para pensar a questão do arquivo e para guiar a abordagem de leitura do Corações de hot-dog é a constante utilização da imagem do garoto, colocado em diferentes contextos, principalmente eróticos. A insistente utilização desta imagem envolta em uma linguagem do êxtase, encontrada, em grande medida no livro inédito analisado, contribui para desvelar a imagem de um poeta-personagem que se mostra múltiplo, se desdobra, e se dissolve ao longo dos poemas, manuscritos e notas que compõem os arquivos. Este procedimento poético se dá através de uma série de devires: o devir-garoto do poeta, o devir-poeta dos garotos, o devir-xamã do poeta, entre outros. Estas leituras contribuem para reavaliar o que até então tinha-se considerado a obra poética de Roberto Piva, tendo em vista a grande quantidade de escritos deixados inéditos.

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Mas é limpinha: uma poética para Francisco Alvim

Laíse Ribas Bastos
Orientadora: Maria Lucia de Barros Camargo
2014

Resumo: Este trabalho tem por objetivo investigar a escrita poética de Francisco Alvim a fim de entender a configuração de uma poesia que se faz a partir da fragilidade, precariedade e tenuidade apreendidas no modo de ver o mundo, as coisas do mundo, e da vida. Serão abordados como corpus os poemas publicados desde seu primeiro livro, Sol dos cegos, de 1968, até o mais recente, O metro nenhum, de 2011. O desenvolvimento da pesquisa está estruturado sobre os principais eixos poéticos da dicção de Alvim: as implicações do reconhecimento crítico de sua poesia; a relação com o presente; a apreensão das falas alheias; e a dissimulação dos sujeitos poéticos na poesia. O movimento em torno dessas questões levará à percepção, também, de um dizer poético que conjuga tempo e espaço e se manifesta por meio de procedimentos constitutivos notadamente deixados como cicatrizes modernas na linguagem poética. A consequência da operação poética realizada a partir de tais recursos será uma poesia permanentemente tensionada e suspensa. Desse modo, a poesia, pensada como um modo de ver ainda audaz e impositivo, nos termos de Jean-Luc Nancy e Michel Deguy, implicará astúcia, força e potência.

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A literatura de Gonçalo M. Tavares: investigação arqueológica e um dançarino sutil nas esferas O Bairro e O Reino

Júlia Studart
Orientadora: Maria Lucia de Barros Camargo
2012

Resumo: Esta tese tem como proposição investigar arqueologicamente o procedimento de escrita da literatura de Gonçalo M. Tavares a partir de uma ideia que ele propõe também como política para o seu trabalho: a literatura como um corpo-dançarino entre o poder da ficção e o ensaio [como experiência intelectual livre e também como ato em si, repetição, treino] e como um pensamento sucessivo entre um passado reminiscente e um presente ativo que se apresenta como uma forma de resistência no mundo agora; a literatura como um movimento arqueológico de colisão dos tempos com o espaço e como desejo político do espírito livre e sem gravidade, quando a escrita vem, com Nietzsche, como um corpo forte que se pergunta o tempo inteiro se é capaz de dançar. Investigar os modos de operação de uma escrita que procura seguir de perto os movimentos de um dançarino sutil [conceito do próprio Gonçalo M. Tavares] e tomar para si uma mobilidade de dança a partir do uso de uma reconfiguração do espaço da história – principalmente nos projetos O Bairro e O Reino. E assim, nestes projetos, ler criticamente como esta escrita é capaz de inserir-se seguindo a morfologia esférica proposta por Peter Sloterdijk.

Publicada em livro: O dançarino subtil: Gonçalo M. Tavares entre as esferas o Bairro e o Reino (Alfragide: Caminho, 2016).

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Baú de máscaras: o arquivo da cantora e compositora Maysa

Valentina da Silva Nunes
Orientadora: Maria Lucia de Barros Camargo
2010

Resumo: Primeira tese a digitalizar e apresentar o arquivo pessoal da cantora e compositora brasileira Maysa (1936-1977), voz de destaque do samba-canção de fossa dos anos 1950 e 1960. Material composto de textos e fotos inéditas, cuja marca é a multiplicidade de forma e conteúdo, esta leitura aponta para os usos da escrita de si e da intertextualidade entre o público e o privado, como um jogo de máscaras, uma autoficção a que a arquivista recorre, para assim compor sua persona, seja levando para os palcos dados de sua vida pessoal, seja trazendo de lá elementos para seu autoarquivamento.

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Das memórias às veredas: Revista USP – letras, cenas e sons

Lucia de Oliveira Almeida
Orientadora: Maria Lucia de Barros Camargo
2008

Resumo: Esta tese tenta configurar o espaço ocupado pela literatura na Revista USP, partindo da reflexão que ali se realiza sobre a arte produzida nos anos 80 e 90. As criações recentes da música popular, do teatro e do cinema são submetidas a um balanço enquanto a literatura não recebe o mesmo tipo de abordagem crítica. Investigar as motivações e desdobramentos de tal postura por parte da revista é a principal proposição desta pesquisa, que busca desenvolver a seguinte hipótese: um vasto conjunto de ensaios publicados na Revista USP compõe um mosaico, no qual a reflexão acerca da literatura brasileira se configura através da constituição de um eixo monumental, formado por Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis e Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. Estas duas obras sustentam e demarcam os limites do cânone proposto pela revista, que posiciona a obra de Guimarães Rosa como última baliza do ciclo criativo da literatura brasileira. Entretanto, é possível perceber algumas sombras que conturbam o desenho nítido do referido eixo. A primeira delas é Grande sertão: veredas enquanto texto neobarroco e a segunda é uma antologia de poesia brasileira publicada na revista Universidad de México.

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Joaquim Cardozo: um encontro com o deserto

Manoel Ricardo de Lima Neto
Orientadora: Maria Lucia de Barros Camargo
2008

Resumo: Este trabalho de pesquisa tenta provocar um encontro da poética de Joaquim Cardozo com o deserto. Ler o deserto como um fora, como uma contemplação, como um território sem marcas fixas e como assombração. O deserto como aquilo que pode interferir na história e interromper a catástrofe através de um pensamento da graça, de uma atenção. Uma leitura crítica da poética de Joaquim Cardozo a partir de seu procedimento com a escritura: súplica, esperança, sustentação do paradoxo e do contingente na imagem do deserto. A fala suplicante do homem trágico. Uma leitura que atravessa a produção de Joaquim Cardozo: poemas, teatro, textos sobre arte e arquitetura, a crítica de poesia e os relatos.

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Roberto Schwarz vai ao cinema: imagem, tempo e política

Renata Telles
Orientadora: Maria Lucia de Barros Camargo
2005

Resumo: Ao longo de sua carreira, o crítico literário Roberto Schwarz escreve três críticas de cinema dedicadas a 8 ½ de Fellini, Os Fuzis de Ruy Guerra e Cabra marcado para morrer de Eduardo Coutinho, que se concentram nos usos e efeitos da técnica cinematográfica, na temporalidade dúplice e na relação entre arte e política. Partindo dessas três questões, a minha análise tenta demonstrar que a possibilidade de uma leitura política do presente, o que Roberto Schwarz mais deseja, se encontra justamente naquilo que ele rejeita insistentemente: a convivência dos contrários.

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Espectros de uma época: o debate pós-moderno no periodismo brasileiro dos anos 80

Simone Dias
Orientadora: Maria Lucia de Barros Camargo
2005

Resumo: Esta tese realiza algumas interpretações sobre o debate em torno da pós-modernidade na crítica brasileira dos anos oitenta, mais especificamente, a partir da leitura dos números temáticos dos periódicos Arte em Revista, Tempo Brasileiro, Folhetim (suplemento da Folha de São Paulo) e Revista do Brasil. A primeira parte da tese apresenta uma retomada da discussão inicial sobre a indústria cultural no país; a seguir, se discutem alguns dos primeiros usos do termo pós-modernismo na crítica brasileira, caso de Tristão de Athayde, Mário Pedrosa e Gilberto Freyre. A segunda parte enfoca o mapeamento e análise do debate articulado pelos críticos nas edições temáticas dos periódicos citados, verificando-se as peculiaridades do referido debate em nossa crítica. Nos ensaios publicados no corpus analisado, persiste, em geral, uma apropriação dicotômica do debate – pró ou contra – acirrada pela discussão tardia sobre a indústria cultural, que se mescla ao debate sobre a pós-modernidade.

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Memórias do Presente: o suplemento Mais!, da Folha de S. Paulo

Valdir Prigol
Orientadora: Maria Lucia de Barros Camargo
2003

Resumo: A proposta desse trabalho é ler o Mais!, suplemento cultural da Folha de S. Paulo, a partir de uma estratégia editorial que ele utilizou exaustivamente no período de 1992 a 2002: a comemoração. Ela é acionada a partir de efemérides de morte e nascimento de autores, de publicação e de lançamentos de obras. A comemoração apresenta-se como um mecanismo liberal e tolerante na produção de memórias tendo o Autor como centro. As narrativas que ganharam visibilidade no Mais! a partir da comememoração, giraram em torno da conversão de memórias de erros do passado para um presente estável. São, assim, memórias do presente, que esquecem as leituras que o comemorado já teve. Nos textos produzidos para as comemorações, os colaboradores são constituídos duplamente pelo Mais!: primeiro, por serem convidados a responderem a uma comemoração e, segundo, por terem seus textos apresentados por uma voz que dá o protocolo de leitura. Ao dizer como devem ser lidos os textos da comemoração, esta voz os investe de um sentido único e os tira da ambivalência, inclusive quando os textos são ficcionais. Essa proposta de leitura está composta em três capítulos e pode ser lida a partir de duas partes: a primeira procura mostrar como a comemoração está materializada na composição do Mais! (Capítulo I), e a segunda dá visibilidade às narrativas que o Mais! colocou em cena através da comemoração, deslendo, de alguma forma, a primeira parte (Capítulos II e III).

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Rapsódia de uma década perdida: o Folhetim da Folha de S. Paulo (1977-1989)

Marco Antonio Cardozo Chaga
Orientadora: Maria Lucia de Barros Camargo
2000

Além de um fichamento completo dos doze anos de existência do Folhetim da Folha de S. Paulo, esta tese realiza algumas interpretações paralelas sobre a importância que o suplemento exerceu ao longo da década de oitenta. São privilegiados os aspectos históricos, políticos e, sobretudo, literários sinalizados pelo Folhetim. A primeira parte da tese enfoca as relações históricas que estiveram na base do jornalismo voltado à formação dos leitores, destacando, principalmente, a atuação dos folhetins como fonte de aceleração, não apenas da publicação de romances, mas como reserva crítica capaz de nos fornecer uma ampla visão do passado. A segunda parte da tese enfoca as tramas literárias e o papel chave desempenhado pela psicanálise. Paralelamente à exposição de alguns dados descritivos, apresento algumas alternativas de análise das três fases que marcaram a existência do suplemento. A primeira, entre 1977 e 1979, dedicada ao divertimento; a segunda, entre 1979 e 1982, voltada ao cenário político da redemocratização; e a terceira e mais longa, entre 1982 e 1989, centralizada na divulgação de ensaios oriundos, majoritariamente, das Ciências Humanas.